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Intimidade
A palavra humana mais significativa para patentear-nos a sensação de encontro é a palavra intimidade.
Intimidade é o cruzamento e, ao mesmo tempo, o resultado do cruzamento de duas interioridades.
Todo individuo, todo “eu” é sempre um círculo fechado e concêntrico por natureza. Interioridade é o resultado de um organizar-se e de um viver para dentro, em uma perpétua inclinação e convergência para o centro de si mesmo. A interioridade nada tem a ver com o egoísmo, embora sejam um pouco parecidos.
Pois bem. Duas interioridades, que saem de seus círculos concêntricos e se projetam mutuamente, tem por resultado uma terceira zona que chamamos de intimidade (um clima? Uma realidade impalpável?), algo como uma realidade psicológica perceptível, mas não explicável; outra zona distinta das duas interioridades, das duas pessoas; algo como uma terceira “pessoa” nascida das duas interioridades.
Ora, duas interioridades concêntricas que saíram de si mesmas e se projetaram mutuamente “geram” o encontro, a intimidade. Em conceitos psicológicos, podemos concluir que, se a oração é um encontro e o encontro é uma intimidade, a oração é a intimidade com Deus.
Longe de permanecer em sua mesmidade, Deus transborda sua interioridade e se abre para nós de diversas maneiras:
Deus é “em si mesmo” e “por si mesmo”; mas “saiu” de suas “fronteiras” e se derramou nas criaturas. O universo é, portanto, um transbordamento do próprio Deus.
Além disso, por uma reação admirável de amor, ele se descobriu para nós, “declarou-se” a nós e se ofereceu gratuitamente para formar conosco uma comunidade de vida e de amor. Deus quer formar uma família, uma sociedade naquela única região em que pode ser feita a conjunção de Deus com o homem, a região do espírito.
Se o homem responde afirmativamente ao convite de Deus, já estamos formando a comunidade de vida, como companheiros de vida. O encontro pressupõe um clima de lar. A Escritura explica esse clima com expressões como “habitar entre nós” (Jo 1,14), “faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23) expressões muito caseiras que evocam certos matizes como calor, gozo, confiança, ternura, coisas parecidas com o fato de sentir-se no interior de um lar feliz.
Nesse clima é que nasce e cresce a intersubjetividade; isto é, a projeção de um sujeito sobre o outro em mutua interação.
Numa palavra: o encontro é um viver e aprofundar interminavelmente a relação interpessoal, em um clima cordial e afetuoso, com o “eu” voltado para o “tu” entre Deus e o homem.
Tirado do livro “Mostra-me teu Rosto” Capitulo 4, subtítulo ”O encontro” de Frei Ignacio Larrañaga.