A oração é a respiração da esperança. Quem deixa de orar, deixa de esperar. No viver dia após dia, em busca do Senhor, o que mais desconcerta os caminhantes na fé, é o silêncio de Deus. Maria for uma peregrina, caminhante. Percorreu os caminhos da vida com as típicas características de toda peregrinação: escuridão, confusão, perplexidade, medo, fadiga, surpresas e sobre tudo interrogações.
Maria não viveu uma vida fácil. Não sabia desde pequenina, por revelações infusas, tudo quanto nós sabemos agora sobre a História da Salvação. Ela foi escolhendo em cada situação que lhe coube viver, estender um cheque em branco a seu Deus, Àquele “que é capaz de ressuscitar os mortos”: na Anunciação, no nascimento em Belém, na fuga para o Egito, no Calvário diante da morte de seu Filho na cruz, uma das provas mais agudas para a fé de Maria.
Mas, provavelmente, a prova mais perigosa para sua fé esteve nesses 30 anos do silêncio de Deus, em Nazaré. Os dias, os meses, os anos iam passando e não havia manifestação alguma da divindade de Jesus. Já estava tão longe tudo que o Anjo havia dito na Anunciação: “será grande, se chamará Filho do Altíssimo, seu Reino não terá fim”. As palavras antigas eram resplandecentes, mas a realidade que tinha diante de seus olhos era uma coisa muito diferente: aí estava o rapaz trabalhando num canto escuro da rústica vivenda. Aí estava silencioso, solitário, reservado. Será grande? Não era grande, não! Era igual a todos os outros. E ela? Não tinha sido dito que todas as gerações a chamariam bem-aventurada? Impossível Está se aproximando o ocaso de sua vida.
Seu amor a toda prova e sua fé de que “para Deus não há impossíveis” a fez, durante esses longos anos cultivar uma fé adulta: aquela que confia, e não pede evidências ou garantias para se entregar. É aquela que “sabe” que por trás do silêncio respira Deus e que por trás das montanhas vem chegando a aurora.
Seu segredo para não sucumbir, para sustentar sua esperança, foi este: não resistir, mas entregar-se. Ao não entender, ela não reagia angustiada, impaciente, irritada, ansiosa ou assustada. Ela não podia mudar nada: nem a misteriosa demora da manifestação de Jesus, nem a rotina, nem o silêncio desconcertante de Deus.
Então, por que resistir? E foi escolhendo, dia após dia, abandonar-se em silêncio e paz nas mãos toda carinhosas de Deus. Meditando as palavras recebidas, reconhecendo que se a realidade era assim, era porque o Pai o permitia e “seus caminhos não são nossos caminhos”, como lembrava o profeta Isaías.
Por isso a Mãe pode se apresentar diante de nós dizendo-nos: “Eu percorri estes caminhos em noites escuras e noites sem estrelas; vocês façam também o que eu fiz. Abandonem-se em silêncio ao silêncio de Deus, e terão derrotado o medo, a escuridão e a noite”.
Baseado no livro de Frei Ignácio Larrañaga: “O silêncio de Maria”.