A amizade é espontânea e nasce da afinidade entre duas pessoas, e é restritiva por sua própria natureza; a raiz da fraternidade, ao contrário, é a fé, descobre o irmão no outro porque sente profundamente que seu Pai é meu Pai e seu Deus é meu Deus. A fraternidade evangélica é uma comunidade na fé sob a Palavra.
O amor de amizade nasce naturalmente, não se necessita cultivá-lo; brota de forma espontânea como a semente em contato com a terra fértil.
O amor de fraternidade não é espontâneo, mas fruto de uma convicção. Caracteriza-se por sua falta de exclusividade, é universal. O amor de fraternidade passa por cima das reações impulsivas e dos gostos próprios, para ver numa pessoa um irmão na fé, sem se importar se há afinidade ou não. O que existe em comum com ela é mais importante: é essa raiz subterrânea que arma e sustenta diferentes existências: o Pai.
Por isso, viver o Evangelho, consiste essencialmente em experimentar o amor do Pai. Quando se sente Seu amor, nasce um desejo incontido de tratar os outros como o Pai me trata. Essa é a experiência revolucionária por excelência. Eu faço um espaço dentro de mim, para que o irmão que está a meu lado o habite.
Mas, só é possível manter este amor a partir de um amor oblativo, não emotivo. Porque só o amor de fraternidade passa por cima dos impulsos que podemos experimentar num dado momento e que se resume em expressões como: “eu gosto, não gosto, me ofendeu, não me aceita…”.
A oração é o caminho para superar as dificuldades que se apresentam neste trato com os demais. É a chave que permite conseguir experimentar o amor oblativo, de dar e ceder minhas convicções para aceitar Jesus atuando em meu coração.
Em toda fraternidade há uma boa dose de amizade, e na amizade pode haver alguns graus de fraternidade. Tudo está combinado. É bom que as comunidades se interroguem com frequência: Que é que prima em nosso relacionamento: amizade ou fraternidade?
Certamente o que nos une é a fraternidade. A beleza de aprender amar a todos, de crescer com todos, de aprender de todos graças ao segredo fundamental para a boa evolução dessa união fraterna: a impor as convicções de fé sobre as emoções espontâneas. E é através do motor dinâmico de uma comunidade, que é o amor oblativo, que podemos tornar realidade o Sonho de Ouro de Jesus: “Amem-se uns aos outros como o Pai e eu nos amamos”.
(Do livro de I. Larrañaga, “Suba Comigo” – Cap. IV Amor oblativo 1. Dar a vida)