A oração é relação com Deus. Relação é movimento de energias mentais, um movimento de adesão a Deus. Não existe uma maneira única de relacionar-se com Deus.
Como se sabe, o ser humano não é geométrico, nem é uma linha reta. Seus estados de ânimo sobem e descem igual às alterações climáticas: agora faz frio, depois calor; agora nuvens, mais tarde sol, logo chuva. Assim é o ser humano: agora está contente, depois temeroso, mais tarde eufórico, logo triste; dorme mal e amanhece contente, dorme bem e amanhece mal humorado; quando tem todos os motivos para estar abatido, está radiante. Não há lógica. O homem, esse desconhecido!
Toda alma sofre vacilações e perplexidades em seu caminho de oração, em sua ascensão para Deus, mais concretamente em sua vida de fé, já que o mistério da oração é colocar em movimento a própria fé.
Ás vezes, você não pode orar, a não ser lendo ou escrevendo. Algumas vezes, quando se está “lendo” uma oração, o Senhor se faz presente tão densamente que se fica sem vontade de dizer nada, simplesmente em silêncio na Presença.
Outras vezes, você toma uma expressão forte e a vai repetindo, concentrada e intermitentemente; aqui também pode chegar um momento em que as palavras perdem sua força intrínseca e você se cala em silêncio, sentindo a Presença.
Pode acontecer outra coisa: depois de muitos minutos de saborosa oração, você percebe de repente, que seu interior está se povoando de tensões e preocupações. Neste momento, você deve fazer um exercício de silenciamento, para acalmar este estado de ânimo e conseguir de novo se concentrar.
Fazer a leitura da Bíblia, lendo-a lentamente, tratando de entender o que leu, escutando a Deus como se Ele falasse a você de pessoa a pessoa, como se pronunciasse seu próprio nome. Tudo num diálogo íntimo e saboroso com Deus.
Contudo, é necessário tomar consciência de que orar é um ato vital e as coisas da vida não se aprende apenas com uma captação intelectual, mas praticando-as, vivendo-as. Por outra parte, sabemos bem que a oração é graça, mas também é arte, e como arte a oração está submetida às normas de uma aprendizagem metódica.
Nós queremos levar a força da oração para uma transformação pessoal e ao compromisso concreto com a Igreja para uma tarefa evangelizadora. Por isso, nas Oficinas de Oração e Vida foi colocada uma pedagogia progressiva, método e disciplina, treinamento e, sobretudo, intensa prática
A oração é fruto e expressão do amor, e o amor tem duas caras: amor a Deus e amor ao próximo. Assim sendo, é o compromisso com os irmãos que garante a autenticidade do meu trato com Deus.
Extraído da entrevista feita ao Frei Ignácio Larrañaga, na Espanha no ano de 1991.