Salvar-se, segundo Jesus, é fazer-se progressivamente criança.
O Reino só será entregue aos que confiam, aos que esperam, aos que se abandonam nas mãos fortes do Pai. Tudo é Graça. Pura Gratuidade. Tudo se recebe. Para receber é preciso se abandonar.
Só se abandonam os que se sentem “pouca coisa”. É necessário fazer-se pequenino, criança, “menor”. Mas, uma vez que nos abandonamos, que nos colocamos na órbita de Deus, então anulamos todas as fronteiras e participamos da potência infinita do Pai amado, de sua eternidade e imensidade.
“Se não te fizeres como uma criança, não entrarás no Reino dos céus”. (Mt. 18, 1-4) Fazer-se criança! A criança é um ser essencialmente pobre e confiado, confiado porque sabe que á sua debilidade corresponde o poder de alguém; numa palavra: sua pobreza é sua riqueza. Por si mesmo, a criança não é forte, nem virtuoso, nem seguro. Mas como o girassol, todas as manhãs se abre ao sol e de lá espera tudo, de lá recebe tudo: calor, luz, força e vida…
Fazer-se criança, viver a experiência do Abbá (querido Papai) não só na oração, mas, sobretudo, nas eventualidades da vida, vivendo confiadamente abandonados ao que o Pai dispor, o que parece ser coisa simples e fácil. Mas, em realidade, trata-se da transformação mais fantástica, de uma verdadeira revolução no velho castelo amassado da autossuficiência, egocentrismo e loucuras de grandezas.
A tecnologia conquistou e transformou a matéria. A psicologia pretende ter dominado o homem. Vã ilusão. Na hora do diagnóstico a psicanalise consegue bons resultados, mas na hora da cura (salvação) o homem, em sua profunda complexidade, é uma sombra perpetuamente errante, fugidia e inalcançável. Diariamente somos testemunhos da sombria impotência das terapias psiquiátricas para qualquer libertação interior.
Não se inventou outra “ciência” nem outra revolução para a transformação do homem que aquela revelação trazida por Jesus: renunciar aos sonhos de onipotência, reconhecer a incapacidade da salvação pelos meios humanos, tomar consciência da nossa insignificância e fragilidade e entregar-nos confiada e incondicionalmente nas poderosas mãos de Deus.
Aparentemente este abandono nas mãos de Deus é uma atitude passiva. Mas quem começa a vivê-la se dará conta de que nela está contida todas as bem-aventuranças. Diria que este espírito de infância é a síntese de todas as virtudes ativas. É como se tivessem conquistado todas as fortalezas da alma que uma vez submetidas, se abandonaram ao querer e ao fazer de seu único dono, para assim, abandonados com absoluta “passividade” em suas mãos, ser transformados desde as raízes. Só Deus é Poder, Amor e Revolução.
Extraído do livro Mostra-me teu Rosto de Frei Ignacio Larrañaga.