Acolher é o pico mais alto e mais difícil nas relações interpessoais.
Podemos indicar o significado do verbo acolher com diferentes expressões.
Eu abro um espaço dentro de mim, para que o outro o ocupe.
Acolher é permitir que o outro entre no meu recinto interior.
Acolher é recolher o outro em meu interior, recebendo-o com carinho.
O mistério do amor se resume no jogo entre esses dois polos: abertura e acolhida. A acolhida pressupõe a abertura. Pressupõe também o perdão, o respeito e a aceitação. É necessário abrir primeiro as portas da intimidade, franquear a passagem ao irmão, para que entre no recinto secreto da minha interioridade.
A comunhão é um movimento oscilante de dar e receber, abrindo as portas interiores de um para os outros. Seu efeito imediato é a confiança, fenômeno coletivo difícil de se descrever, impossível de se definir, e facílimo de se sentir. O fruto final é o gozo, sinal inequívoco da presença de uma verdadeira fraternidade.
Toda pessoa é interioridade, ou melhor, interiorização. Quando duas interioridades se abrem mutuamente, e se projetam, nasce a intimidade: das duas presenças formou-se uma presença. Quando várias interioridades se abrem mutuamente e se projetam, nasce a fraternidade.
O que é fraternidade? Podemos falar sobre a fraternidade, mas não defini-la. É um clima de confiança que, como uma atmosfera, envolve todos os irmãos. Nós a “geramos”, é fruto de nossa abertura-acolhida. É nossa “filha”, mas esta filha, sem sabermos como, transformou-se em nossa “mãe”, como já dissemos, no sentido que nos penetra e nos envolve num hálito de calor para dar-nos à luz, e para nos levar a plenitude personalizadora e comunitária.
Para acolher, é preciso colocar-se em estado de escuta diante das outras pessoas, cuja personalidade nos irá sendo revelada na medida em que estivermos atento.
Esta atitude de atenção ou abertura pressupõe, anteriormente e ao mesmo tempo, um despojamento completo. De quê? De tantos preconceitos e falsas imagens que se levantam como muralhas diante de nossas portas, para bloquear as saídas e entradas.
Velhas histórias, antipatias instintivas e cegas reações sentimentais contribuíram muitas vezes para que formássemos uma imagem deformada do outro, que, não raras vezes, até parece uma caricatura.
Essa imagem distorcida desencadeia em nosso interior uma série de mecanismo de obstrução que impedem qualquer acolhimento. Logo de inicio obstrui completamente as vias de comunicação com aquela pessoa.
Se eu faço um lugar dentro de mim para que o outro o ocupe, se permito ao outro, sua entrada no meu recinto interior e acolho o outro no meu interior com braços de carinho, uma vez que os caminhos estejam livres e as caricaturas derrubadas, os irmãos serão acolhidos pelos outros irmãos na verdade transparente de suas personalidades.
Extraído do libro “Suba Comigo” de Frei Ignacio Larrañaga.