Ás vezes, uma pessoa é assaltada pela desolação, e não sabe o que se trata. As confissões dos homens e das mulheres que se aproximam de nós e se abrem conosco são de estremecer. Dizem que não sabem o que é. Trata-se, dizem, de alguma coisa interior confusa complexa, absolutamente inexplicável, que lhes dá uma tristeza pesada. Impossível de eliminar. Acrescentam que, nesses momentos, a única coisa que lhes dá alívio é acudir à Mãe, gritando: “Vida, Doçura e Esperança nossa, os vossos olhos misericordiosos a nós volvei! ”
Dizem, sempre dizem, que é impossível explicar: num dia qualquer, acordam e, sem motivo aparente, começam a sentir uma impressão vaga e profunda de temor. Sentem-se pessimistas, rejeitados pelo mundo. Se têm cem lembranças, das quais noventa e cinco são positivas, fixam-se nas cinco negativas, e uma sensação rara de tristeza, medo e sobressalto toma conta deles sem que possam eliminá-la. Sem saber porque tem vontade de morrer. E acrescentam que, nesses momentos, só a evocação da Mãe com as palavras da Salve Rainha lhes dá alivio, faz recuperar o ânimo e voltar a respirar.
Ao longo da vida, assistimos muitas pessoas no leito da agonia. Ainda hoje estão vivas em mim muitas dessas lembranças. Quando um agonizante, apesar das palavras vãs de seus familiares, pressente que está sendo arrastado pela corrente inexorável da decadência, quantas vezes vimos iluminar-se o rosto abatido quando rezou a Salva Rainha com os familiares em coro: “A vós bradamos os degredados filhos de Eva, a vós suspiramos. Mãe de misericórdia e doçura nossa”.
Em países de tradição católica, uma pessoa fica frequentemente impressionada ao comprovar a profundidade da devoção mariana em regiões de marinheiros e pescadores. Em muitos lugares, quando as embarcações de pesca saem para o alto mar, vão sempre cantando a Salve Rainha.
Vi encarcerados, estigmatizados pela opinião pública e abandonados por seus familiares e amigos, quando eram visitados discretamente por uma mulher solitária, sua própria mãe. Uma mãe nunca abandona, a não ser quando é arrebatada pela morte.
Precisamos de outra Mãe, que nunca possa ser atingida pela morte. Cada um vive sua vida de forma singular, e só ele “sabe” o que há em seus arquivos: sofre dificuldades, entra em desolação, seu estado de ânimo sobe e desce, morrem as esperanças, envolve-se de repente em situações impossíveis, renasce a esperança no dia seguinte e, embora com dificuldade, parece que tudo tem jeito… e luta pela vida!
A Mãe é em qualquer momento, consolação e paz. Ela transforma a aspereza em doçura. Ela é benigna e suave. Sofre com os que sofrem, fica com os que ficam e parte com os que partem. A Mãe é paciência e segurança. A Mãe é nosso gozo, nossa alegria, nossa quietude. A Mãe é uma imensa doçura e uma fortaleza invencível.
Tirado do libro “O Silêncio de Maria”. Capítulo III, subtítulo “Consolação”. De Frei Ignacio Larrañaga.