Ilusões, paixões, ansiedades, fantasias, medos, projetos… tudo é arrastado inexoravelmente para o oceano da inexistência. Para que sofrer? Nada permanece. Nada fica vibrando, tudo é sepultado no templo do silêncio, como os rios que se sepultam no mar.
A transitoriedade impõe sua lei sobre tudo que começa. Para que lançar ancoras em fundos vazios? Deixe que os fenômenos nasçam, brilham e desapareçam como pirilampos. O Pai dispõe assim. Ele nunca passa. Ele permanece para sempre. O Pai é a Realidade.
Quando um irmão, através da observação e da meditação, chega a convicção vital da transitoriedade de tudo que o cerca, quando deixa que as coisas sejam e se desliga emocionalmente de tudo que não vale (não “se importa” com o que não importa), a partir desse momento, esse irmão passa a ser inundado por uma luz profunda, como quando o fogo de uma lamparina, ao acabar o óleo.
Uma rocha, no mar, pode ser combatida por ciclones e permanecer imóvel. É isso que acontece com o irmão que chegou a essa sabedoria: fica tão confirmado na paz que não poderá ser sacudido nem pelos louvores nem pelos vitupérios, e alcança a serenidade de quem está acima dos vaivéns da vida.
Livre das preocupações pelo imprevisível, o irmão permanece como um lago profundo, sereno e claro. Se os irmãos se pusessem a caminho em busca da sabedoria e da humildade, como seria agradável viverem juntos os irmãos! Quanta energia liberada e disponível para organizar as batalhas de libertação em favor de todos os explorados e esquecidos deste mundo!
Quando um irmão está triste e abatido, ou no auge da crise, é fácil que se deixe levar pela impressão de que essa situação vai se perpetuar, o que aumenta sua angústia. Mas não é isso que acontece. Daí a poucas horas ou dias, passou tudo. Se, no momento agudo, chamasse sua própria atenção, lembrando-se de que tudo é transitório, a tristeza se afastaria e nasceria a paz.
Tal irmão, chegará pouco a pouco, a ter um coração desprendido, pobre e humilde. Podendo desligar-se quando quiser, de pessoas ou fatos, adquirirá grande domínio de si e de suas emoções, até encontrar-se em um ponto onde não chegam as marés passionais.
Tem plena consciência de si mesmo, pleno domínio de si mesmo, em qualquer circunstância da vida. Vive acordado. Já transcendeu a relatividade e pôs as coisas em ordem: o relativo em seu lugar, e o Absoluto em seu lugar.
É então que se acha em disposição ideal para amar. Seu relacionamento com os irmãos da comunidade será feito de compreensão, bondade e fortaleza.
Agora pode entrar no mundo tenso em defesa dos pobres e dos explorados. Não se quebrará por incompreensões, nem desanimará por causa das dificuldades.
Tirado do livro “Suba comigo, capitulo 2 “Libertação” item ”Deixar que as coisas sejam” de Frei Ignacio Larrañaga.