A vivência do abandono se faz em dois tempos: passado e futuro. Como viver o abandono de agora em diante? Deve distinguir entre o esforço e o resultado. A hora do esforço é sua hora. Abandonar-se não significa cruzar os braços, pelo contrário, deve fazer tudo que está ao seu alcance, por todo o entusiasmo, toda a experiência, procurando a colaboração dos outros como se tudo dependesse de você. Não deve ficar perguntando onde está a vontade de Deus. Nem espere que desça um anjo para manifestá-la: procure-a você mesmo, aplicando os critérios sadios do discernimento.
E o que é que acontece? Acontece que, embora o esforço dependa de você, o resultado, pelo contrário, depende de uma grande complexidade de causalidades. Por esta razão, a sabedoria diz que se deve erguer um muro alto para separar o esforço do resultado. A hora do esforço é sua hora; a hora do resultado é a hora do abandono.
Se os resultados não dependem de você, é uma loucura viver preocupado. O que será? O que não será? Será aquilo que o Pai quiser. Você faz tudo que está ao seu alcance; o resto deixa nas mãos d’Ele. Ocupado, sim; preocupado, não. Luta, sim, mas com paz. Não se consegue nada em preocupar-se ou angustiar-se.
Por viver preocupado com os resultados, há muitos que queimam energias inutilmente. Antes de elaborar um plano, e enquanto o executa, vivem angustiados com medo do fracasso; vendo oposição em todos os lados, destroem energias; se o resultado for negativo, deixam-se oprimir pelo seu peso, tornam-se inseguros…. Muitos males provêm do fato de se viver preocupados com os resultados.
Aceita com paz tudo aquilo que seu esforço não consegue alcançar. Abandone nas mãos de Deus todas as limitações que o rodeiam. Aceite com paz o fato de não ser aceito por todos. Aceita com paz o fato de querer ser humilde e não conseguir. Aceita com paz o fato de não ser tão puro como gostaria de ser. Aceita com paz o fato dos resultados serem menores que os esforços que faz e de ficar sempre com uma sensação de frustração.
Aceita com paz o fato de o caminho para a santidade seja tão lento, tão longo e tão difícil. Aceita com paz a lei da insignificância humana, quer dizer, que depois da sua morte, as coisas serão iguais como se nada tivesse acontecido. Aceita com paz a lei da precariedade, da transitoriedade, da mediocridade, do fracasso, da velhice, do declínio da vida, da solidão, a lei da morte. Aceita com paz que seus ideais sejam tão altos e as realidades tão pequenas. Aceita com paz o fato de querer agradar a todos e não conseguir.
Pai, em tuas mãos me ponho. Faz de mim o que quiseres. Assim, a tua herança será a paz e a tua morada também será a paz. Você tem que descobrir as fontes secretas de resistências e conflitos, não para abrir feridas, mas para as curar. Reconciliar significa perdoar. E perdoar é abandonar a resistência contra alguém e, sobretudo, contra si mesmo. Esse alguém é, principalmente, você mesmo.
Tirado do livro “Nas mãos de Deus”, de Frei Ignacio Larrañaga.