Venham, irmãos, subamos a montanha de Deus para contemplar uma Grande Luz!
As colunas vão ser aplainadas, os caminhos endireitados e as asperezas vão ser suavidades. Vinde, irmãos, ver o Amor!
Francisco ficou em companhia de Frei Leão. Fechava-se o dia inteiro, na gruta das rochas, pensando na pobreza de Belém, no mistério do Natal, na reconciliação universal entre a matéria e o espírito, nos esponsais do céu com a terra. Sentia desejos fortíssimos de contemplar, com os próprios olhos, o Menino que uniu o céu a terra.
Ao anoitecer, o Irmão subiu para a cabana. Depois de cear, Francisco ficou transportado, porém, não dizia nada. – Irmão Francisco, diga alguma coisa, disse Frei Leão. – Palavras? perguntou Francisco. As palavras acertadas aqui, são lágrimas.
É demais, irmão Leão! O Senhor foi bom demais conosco. Quando penso em Belém, só posso chorar. Não sei falar, irmão Leão. Só poderia dizer algumas palavras soltas, contudo, é melhor o silêncio só com as lágrimas. – Pois diz essas palavras soltas que o mistério do Natal te faz lembrar, insistiu Frei leão.
Francisco ficou muito tempo em silêncio, com os olhos fechados. Depois abriu a boca para dizer alguma coisa, porém não disse nada. Houve mais um grande silêncio. Parecia que o Irmão estivesse controlando as emoções e tentando reduzi-las a palavras.
No fim, com voz suave e dulcíssima, começou a debulhar devagarinho as palavras soltas: Belém. Humildade. Paz. Silêncio. Intimidade. Gozo. Doçura. Esperança. Benignidade. Suavidade. Aurora. Bondade. Amor. Luz. Ternura. Amanhecer. As últimas palavras quase não se ouviam. Depois, o Irmão calou-se e não quis falar mais.
Extraído do livro “O Irmão de Assis” de Frei Ignacio Larrañaga