Nos evangelhos há outros aspectos muito interessantes para saber, de forma dedutiva, quem e como foi a Mãe.
Em primeiro lugar, Jesus é o Enviado que antes de proclamar as bem-aventuranças, viveu-as Ele mesmo até as últimas consequências.
Em segundo lugar, Jesus foi o Filho que desde pequeno foi observando e admirando em sua Mãe todo este conjunto de atitudes humanas – humildade, paciência, fortaleza – que depois haveria de espargir em forma de exclamações na montanha. Digo isso porque sempre que Maria aparece nos evangelhos é com as características descritas no sermão da montanha: paciência, humildade, fortaleza, paz, suavidade, misericórdia.
Todos nós somos, de alguma maneira, o que foi nossa mãe. Uma verdadeira mãe vai recriando e formando seu filho, de alguma forma, à sua imagem e semelhança, quanto a ideais, convicções e estilo vital
Jesus deve ter tido uma impressão muito forte ao ir observando, desde seus primeiros anos, e também admirando – sem querer, imitando – aquele silêncio, aquela dignidade e paz, aquele não se impressionar com as adversidades.
Para mim, é evidente que Jesus consciente e inconscientemente, percebendo ou não, nada mais fez na montanha do que desenhar aquela figura espiritual de sua Mãe que lhe surgia das profundezas do seu subconsciente, subconsciente alimentado pelas lembranças que datavam de seus primeiros anos. As bem-aventuranças são uma fotografia de Maria.
Avançando por entre as penumbras das páginas evangélicas, vislumbramos um impressionante paralelismo entre a espiritualidade de Jesus e a de sua Mãe.
Maria no momento decisivo de sua vida, resolveu seu destino com a palavra Faça-se (Lucas 1, 38) Jesus, quando chegou “sua hora” resolveu o destino de sua vida e a salvação do mundo com a mesma palavra Faça-se (Mc 14, 36). Essa palavra simboliza e sintetiza uma vasta espiritualidade que abarca a vida inteira com seus impulsos e compromissos, na linha dos pobres de Deus
Quando Maria quer expressar sua identidade espiritual, sua “personalidade” diante de Deus e dos homens, usa aquelas palavras: sou uma escrava do Senhor (Lc 1, 38) Quando Jesus se propõe como uma imagem fotográfica para ser copiado e imitado, usa as palavras “manso e humilde” (Mt 11. 29)
Maria afirma que o Senhor destronou os poderosos e elevou os humildes Jesus diz que os soberbos serão abatidos e os humildes exaltados.
Desses e de outros paralelismos que se encontram nos evangelhos, poderíamos deduzir que Maria teve uma influência extraordinária e determinante na vida e na espiritualidade de Jesus. Que muito da inspiração evangélica se deve a Maria, como uma fonte longínqua; e, que, ao final, o Evangelho é, em geral, um eco remoto da vida de Maria.
Extraído do livro O Silêncio de Maria, de Frei Ignacio Larrañaga