Um pinheiro solitário na planície infinita é um espetáculo. Saiu para a vida timidamente, quase por acaso, embalado pelos ventos. Os temporais balançaram sem dó sua frágil cabeleira e, para não sucumbir, suas raízes penetraram fundo no solo argiloso. Adquiriu tamanha consistência que hoje não há furacão que possa dobrá-lo. Lá está, galhardo, na altura.
Em um brilhante jogo de paradoxos, Paulo transmite-nos a dialética cristã da força-fraqueza: é na fraqueza humana que se enxerta, se prende e contrasta a força de Deus. Quem quiser viver, tem que morrer. Para transformar-se numa espiga dourada, o grão de trigo tem que apodrecer e ser sepultado no seio da terra. A força nasce da fraqueza, a vida da morte, a consolação da desolação, a maturidade das provações.
Quem não sofreu parece uma vara de bambu: não tem miolo, não sabe nada. Um grande sofrimento é como uma tempestade que devasta e arrasa vasta região. Passada a prova, a paisagem reluz cheia de calma e de serenidade.
Uma grande tribulação faz o homem crescer em maturidade e sabedoria mais do que cinco anos de crescimento normal. Quantas vezes a gente ouve este comentário: “Como fulano mudou! Como amadureceu! Foi porque sofreu muito”.
Quando tudo vai de vento em popa, quando não há dificuldades nem espinhos, o homem se fecha em si mesmo. Seus próprios êxitos são como altas muralhas que o encerram como num cárcere. Preso entre as suas torres, proprietário de si mesmo, ofuscado pelo brilho da própria imagem, quem o libertará da escravidão? Para livrá-lo só um terremoto. Deus fica sem nenhum outro caminho de libertação a não ser enviar a esse homem uma grande tribulação para acordá-lo, destruir seus castelos e tirá-lo do Egito de si mesmo.
Quando a doença ou a tribulação subjugam uma pessoa ela põe os pés no chão, compreende que tudo é sonho. As ficções voam, murcham os enfeites artificiais, desfaz-se a espuma e a pessoa se vê despida no chão da objetividade. É o primeiro capítulo da sabedoria. Sem sofrimento, não há sabedoria.
O que acontece é o seguinte: quando a tribulação cai de surpresa sobre o homem e o envolve como uma noite, ele não vê nada. Nesse momento, é muito difícil dispor de um olhar de fé, porque a pessoa não vê mais do que a perversidade humana e as causas imediatas. Mas quando se toma certa distância abre-se a perspectiva e o homem estende um olhar longo, o olhar da fé. Nesse momento ele começa a compreender que o que aconteceu foi uma pedagogia de Deus e, no fundo, uma predileção libertadora.
Se o leitor parar um pouco e voltar o olhar para trás em sua vida para refletir um momento, vai descobrir que certos acontecimentos dolorosos que, naquele tempo, considerou tremendas desgraças, hoje, dez anos depois, demonstraram ter sido providenciais, pois lhe trouxeram bênção, desprendimento de si mesmo e sabedoria.
Paulo vai engatando com uma lógica vital os elos da corrente de ouro: “Nós nos alegramos no sofrimento porque sabemos que o sofrimento nos dá a paciência, e a paciência nos prova, e quando somos provados temos esperança, e esta esperança nunca falha”. (Rom. 5, 3-5)
Mas nós estamos em um processo lento. Quando o cristão topa de repente com o sofrimento, sua primeira reação, quase inevitável, é a rebeldia e a interrogação: Por quê? Geralmente, dirige-se a Deus, sem dar-se conta que Ele mesmo está instalado na dor, na cruz.
A resposta vem sempre do alto da cruz, mas no começo o cristão não o percebe porque a poeira e o clamor que o cercam impedem a percepção. Mas depois de certo tempo, quando o horizonte clareou e já há distância suficiente, o cristão começa a entender a resposta.
Só que esta resposta não é uma consideração abstrata e filosófica sobre a dor e sim uma ordem peremptória: “Venha, pegue sua cruz e me siga” (cf. Mc. 8, 34). Quando o cristão, nesse itinerário interior com o Cristo Doloroso, deixa de ser rebelde e recebe a cruz, abandona-se, adora e, descobrindo o sentido salvífico da dor e do mistério da Cruz, é visitado pela paz e a alegria. Nesse momento a dor e a morte são vencidas. É a maneira mais eficaz de eliminar o sofrimento.
Extraído do livro “Sofrimento e Paz” de Frei Ignácio Larrañaga.