“Acrescentarei uma experiência pessoal. Presenciei nos hospitais, repetidas vezes, o seguinte: quando eu explicava aos doentes incuráveis que estavam compartilhando as dores do Crucificado e que estavam acompanhando-o na Redenção do mundo, pude observar, enquanto eles olhavam fixamente o crucifixo, que seus rostos se revestiam de uma paz inexplicável e, por que não dizêr, de uma alegria misteriosa. Certamente sentiam que vale a pena sofrer porque haviam encontrado um sentido e uma utilidade para o sofrimento.
Ou seja, sua dor tinha um caráter criador, como a dor da mãe que dá à luz. Não sei se isso poderia chamar alegria na dor. De cualquier modo, é a vitória e a satisfação de quem arrancou da dor seu mais terrivel aguilhão: a falta de sentido, a inutilidade.
Um doente incapaz, ou qualquer outro atribulado pelas penas da vida, toma consciência de que: na fé e no amor participa ativamente na salvação de seus irmãos; está realmente completando o que falta aos padecimentos do Senhor; o seu sofrimento não é apenas útil aos demais, mas cumpre um papel insubstituível na economia da salvação; enriquece a Igreja tanto ou mais que os apóstolos e missionários; o seu sofrimento, assumido por amor, abre o caminho para a Graça, mais que qualquer outro serviço; os que sofrem com fé e amor fazen presente na historia da humanidade a força da Redenção mais que qualquer outra coisa, enfim, impelen o Reino de Deus de dentro de si para a frente e para cima.
Como não sentir satisfação e júbilo?
Com o passar do tempo, seu nome desaparecerá dos arquivos da vida. Seus netos e bisnetos também serão sepultados no esquecimento e seus nomes serão levados pelo vento. De sua lembrança só restará o silêncio.
Mas se você tiver contribuído com a Redenção do mundo, associando-se à tarefa redentora de Jesus com sua própria dor, terá aberto sulcos indeléveis nas entranhas da transistória que nem os ventos nem as chuvas poderão apagar; terá realizado um trabalho que transcende o tempo e o espaço. Como não sentir satisfação e júbilo? Assim se compreende a explosão de Paulo ao dizer: “Agora me alegro de meus padecimentos”.
A dor, caminho de sabedoria
Aquele que não sofreu é como um gommo de bambu, não possui miolo, não sabe nada. Um grande sofrimento assemelha-se a uma tempestade que devasta e arrasa uma ampla região, mas, depois que passa o temporal, a paisagem mostra-se calma, serena.
Uma grande tribulação faz uma pessoa crescer em maturidade mais de cinco anos de vivência.
Quando tudo caminha bem, quando não existem dificuldades nem espinhos, o homem tende a fechar-se em si mesmo para saborear seus êxitos. Suas conquistas e satisfações o prendem à terra, são como altas muralhas que o fechan em si mesmo sem perceber que essas muralhas o defendem, mas também o aprisionam.
Se você parar um instante, olhar para trás em sua vida e refletir um pouco, descobrirá que tantos acontecimentos dolorosos de seu passado, que no momento en que aconteceram pareciam desgraças, hoje, decorridos dez anos, você constata que lhe trouxeram muita bênção, deprendimento e liberdade interior. Com o passar dos anos, transformaram não em desgraças, mas em fatos providenciais em sua vida.
Deixo, pois, sobre sua cabeça sofredora esta bênção: “Bem-aventurados os que sofrem em paz a tribulaçao e a doença, porque serão coroados com um diadema de ouro.”
Extraído do livro “A Arte de Ser Feliz”, Frei Ignacio Larrañaga