– Mestre, não podemos evitar: uma maré de tristeza nos inunda ao saber da sentença do Sanedrim contra ti. Estamos confusos: o que será da tua missão neste mundo?
– Breve como um dia de inverno e simples como um bambu reto será minha vida: semear e morrer. Como o destino dos meteoros é perder-se nos escuros espaços, minha peregrinação se acabará no santuário da morte. Não verei germinar nem crescer o trigal. Depois de lançar a semente só me resta preparar-me para morrer. Semeei sem fadiga, derramei à minha passagem saúde e bondade; contudo, não terei a satisfação de comprovar os resultados.
– Mas, Mestre, com tua morte tudo acabará – insistiu João.
– Tudo começará – respondeu o Pobre – A condição que o Pai me pede é o meu sacrifício. Uma vez consumada minha imersão nas águas da morte, no mesmo instante a planta levantará a cabeça e começará a escalar as alturas. Recorda-se quantas vezes eu lhes falei do grão de trigo? Se não cai na terra, permanece estéril; se morre, dá muitos frutos. Minha vida como semeador tem sido precária. A semeadura terminou e agora me corresponde desaparecer.
A semente já está semeada, para que esperar mais? E o Pobre acabou dizendo:
-Tenho vontade de depositar minha vida nas mãos do Pai, como uma máxima oferenda de amor e como preço de resgate. Ás vezes parece que não entendo nada, mas ainda assim só sei uma coisa: meu Pai guia a nave e em suas mãos me deixarei levar aonde Ele quiser, como quiser e quando quiser. Com os olhos fechados e, abandonado, entrarei no túnel escuro e misterioso, ainda que não veja nenhuma luz até o final. Será a obra da minha vida. Vou cumprir o drama até sua consumação. O resto o fará o Pai.
Extraído do livro “O Pobre de Nazaré” de Frei Ignácio Larrañaga OFM cap
