Quanto mais se ora, Deus é “mais” Deus em mim. Nao é que Deus mude: nao pode ser “mais Deus ou menos Deus”. Ele é sempre igual a si mesmo; é imutável e está inalteravelmente presente em mim. Mas é na medida em que minha relacao com Ele é mais densa, que também sua presenca se faz mais densa em mim, para mim.
Uma comparacao: a sala está completamente escura, nao se ve nada. Acendemos um fósforo, se ve algo: uma mesa, uns livros, umas cadeiras. Acendemos cinco fósforos; se ve muito mais: outras mesas, muitas cadeiras, quadros na parede. Acendemos cinquenta fósforos: é uma sala bonita, mas ainda se ve zonas de penumbra lá no fundo. Acendemos mil e quinhentos fósforos, a sala é um espetáculo de inolvidável beleza, cores e figuras.
Mudou a sala? A sala continua identica, igual que antes. Contudo, para mim tudo mudou. O que aconteceu? A luz fez “presente” a sala para mim.
Quanto mais fósforos fui acendendo, a sala foi se tornando progressivamente mais presente para mim.
Com Deus acontece o mesmo. Quando nao se ora nada, Deus é como uma habitacao escura, uma palavra vazia. Quando se comeca a orar, Deus comeca a se fazer “presente” em mim. Na medida em que se ora mais, Ele é cada vez mais “Alguém” para mim, “resplandece a luz do seu Rosto” em mim. Quer dizer, se sente Deus cada vez mais próximo, vivo e presente.
Comeca-se a contemplar tudo à luz do seu Rosto. Os acontecimentos se sucedem a minha volta, as coisa, as pessoas ou circunstancias que observo com meus sentidos tem um novo significado, aparecem revestidos da luz da sua presenca, enquadrados no marco da sua vontade. Não é que os fatos e as coisas estejam magicamente revestidas de luz divina, mas é que quando nossos olhos estao povoados de Deus, tudo que eles contemplam aparece revestido de Deus.
Na medida em que avanca este processo, nascem novos desejos de estar com Deus e na medida em que mais frequente e profundamente estamos com Deus, entao se superam as dificuldades Nele, por Ele e com Ele. Se superam com paz as provas, se vencem as repugnancias, os fracassos nao destróem; onde havia violencia se poe suavidade, assume-se com alegria os sacrifícios e nasce por toda parte o amor. Nasceu o encanto da vida.
Do livro “Transfiguracao” de Frei Ignacio Larrañaga.