A contemplação não é um discurso teológico em que se entretece uma brilhante combinação com imagens sobre Deus, manuseando premissas e tirando conclusões. O contemplativo é, antes de tudo, um admirador. Em seu entender (verbo ativo) há elementos passivos: admiração, gratidão, emoção. Por causa disso, a contemplação tem as mesmas notas harmônicas que a admiração.
É aquele suspense cheio de assombro que o Apóstolo Paulo sentia ao dizer: “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus pensamentos e indecifráveis seus caminhos!” (Rom. 11, 33)
Eu diria que, em certo sentido, a capacidade contemplativa de uma pessoa está em proporção com a sua capacidade de se maravilhar. Por isso o contemplativo nunca está consigo ou voltado para si mesmo. Está “em êxodo” em estado de saída e de projeção para o Outro, completamente “extasiado” e arrebatado pelo Outro.
Como se sabe, a capacidade de se maravilhar e o narcisismo estão em proporção inversa. O narcisismo e o infantilismo são uma mesma coisa, e a maturidade e o narcisismo estão em polos opostos. A adesão desordenada a nós mesmos provoca em nós as reações de euforia ou de depressão, desequilibrando a nossa estabilidade emocional.
Na contemplação não há nenhum ponto de referência a si mesmo. Não importa ao contemplador as coisas que se referem a ele mesmo e somente lhe impactam as coisas que fazem referência ao Outro. Não se vangloria com os triunfos nem se deprime com os fracassos. Por isso, nós vemos os grandes contemplativos cheios de maturidade e grandeza, com um ânimo inalterável, com aquela característica de serenidade de quem está instalado em uma órbita de paz, acima dos vaivéns da vida, das turbulências e mesquinharias do cotidiano.
O contemplativo está submerso no silêncio. É o silêncio povoado de admiração e presença que o salmista sentia ao dizer: “Senhor nosso Deus, que admirável é seu Nome em toda terra!”. (Sal. 8)
Extraído do livro “Mostra-me teu rosto” de Frei Ignacio Larrañaga.