A oração diária anima-nos a viver com fogo dois sinais evangélicos: A humildade e a alegria.
Quando nos abrimos dia após dia a deixar-nos vencer pelo amor de Deus na oração, percebemos maravilhados que o desamparo e a pequenez ficam neutralizados pelo poder e pela ternura de Deus. Sentimos uma nova alegria, uma fortaleza sem força: a certeza de que Alguém nos acompanha na vida, dia e noite. Sentimo-nos em união com a sua Misericórdia Invencível. Cresce a jorros o nosso anseio de que Deus vá conquistando territórios em nós. Desses que necessitam de ser povoados por Ele, mas que ainda estão enredados por egoísmos, orgulho ferido, vontade de sobressair ou de conduzir a nossa vida à nossa maneira.
Só a oração nos faz voltar ao primeiro amor, a reconhecer agradecidos a nossa própria pequenez. E a repetir assombrados com o Salmista: “Com a ajuda de Deus fazemos proezas”. (Salmo 60)
Quando se ama a nossa própria pequenez, o coração inunda-se da mesma certeza de São Paulo: “Este tesouro do que sou e do que valho trazemo-lo em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder que nos habita, é de Deus e não é nosso”.
Quando o coração avança em humildade, o medo desaparece e surge a liberdade. Não há temor à própria pobreza, porque na solidão diária junto a Deus, experimenta-se que Ele me olha e me mima como se eu fosse seu filho único. Daí nascem energias indomáveis. Pulverizam-se medos, tristezas e angústias. Anseia-se por crescer no amor. Porque “o amor é a força mais humilde, mas também a mais poderosa de que dispõe o ser humano”, como experimentou Gandhi.
Um mistério indecifrável para nós: Somos sustentados pelo próprio coração de Deus. Apesar das nossas vacilações, apesar dos nossos erros e dos nossos retrocessos; apesar de nos afastarmos, Deus permanece sempre a nosso lado. Ele é sempre fiel.
O coração do humilde é um coração reconciliado. Faz tudo o que há para fazer em cada situação e deixa nas Mãos de Deus “os impossíveis”. Sabe que não há fracasso para aquele que nelas se abandona. Por isso deixa que as coisas que não pode mudar sejam como são.
Quando palpita a inabalável decisão de não abandonar estes tempos de intimidade com Deus, ocorre o inaudito: Os olhos povoam-se de Deus. Assim, tudo o que contemplamos reveste-se do olhar de Deus, da sua paciência. Perdoar é mais fácil, dar o primeiro passo já não é um “impossível”: Emerge um olhar compassivo e misericordioso para aquela pessoa “difícil”. E, sem dúvida, essa paciência amorosa que só Deus concede quando alguém é “difícil” para si mesmo ou para os outros.
O coração humilde experimenta agradecido que Deus se ocupe dele até nos mais pequenos pormenores, do mesmo modo que alimenta os passarinhos e veste as margaridas do campo. Ele aumenta o desejo de se deixar empapar da mesma confiança que tinha Maria. E como ela, entregar e submeter a nossa vontade perante cada situação que nos caiba viver. Compreendendo que aquilo a que chamamos ego, esse “eu” de mil cabeças que emerge de zonas desconhecidas provocando sofrimento, podemos anulá-lo se descobrirmos que ele é filho do nosso orgulho e egoísmo.
É com Jesus que sentimos o anseio de que Ele vá suavizando as arestas e esculpindo uma figura nova em nós. Por isso, o coração do humilde repete sem cessar um pedido: Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao teu!